Questões que me atormentam...

Friday, August 24, 2007

André Ariano

Texto...

Exatamente dois anos e seis meses depois de ter nascido de novo, lá estava eu para mais um parto. Exatamente como eu imaginava, estava acompanhado de uma trupe de Oliveiras que dava uma sensação de conforto absurda para quem estava vivendo um momento que cabia muita ansiedade, angústia e apreensão. O fato de estar em casa, vendo Mi assistida por uma grande amiga, fazia do nascimento de André um passeio delicioso.

Quando surgiu nas mãos de doutora Salete, o moleque mostrou a parte ítalo-bahiana do sangue e deu um berro que fez tremer as paredes do centro cirúrgico. Depois limpinho nas mão de Dra Denise, pudemos constatar que André era perfeito como eu tanto queria, lindo como Milena dizia e muito, muito, mais parecido com Antônio que a gente poderia imaginar. Pela primeira vez desde a notícia da gravidez, eu senti uma sensação tão forte ou até mais intensa que da primeira vez que passei por aqueles minutinhos mágicos. Além das lágrimas nos olhos e a moleza nas pernas, eu tinha no coração uma noção muito clara da razão para estar vivo, do que realmente importa na vida. Ser pai pela segunda vez me dava uma sensação de super-herói deliciosa, como aquele jogador que faz o gol consagrador e em êxtase corre para torcida batendo no peito e repetindo: “eu sou foda!”.

Têm sido inevitável repetidas comparações entre as coisas que estamos vivendo agora e tudo aquilo que a gente viveu na primeira vez que passou por toda essa aventura da nova cria. A grande diferença é como sexo e amor naquela música de Rita Lee: O primeiro filho é poesia, o segundo é prosa. O primeiro é paixão, o segundo é amor... e por aí vai. Tudo que a gente tem vivido em relação a André é mais sereno, mais calmo, mais sob controle. Ao contrário do que eu projetava, isso não torna a experiência menos especial, ou menos intensa. É muito forte e gostoso, entretanto é também tudo muito mais tranquilo. Eu comparo a diferença entre a primeira paixão e o amor definitivo, aquele que você vai envelhecer com ele. Os dois são muito fortes, só que o segundo você tem muito mais respostas que perguntas, e mesmo a eventual falta de resposta não lhe aflige. Curtir a chegada de André tem sido assim, muito contemplativo, mesmo com as madrugadas animadas, todas as dores de Mi e o cuidado adicional com Antônio. Além da experiência, o fato de estarmos na nossa casa, equipe de apoio completa, com tudo arrumadinho tem deixado o processo controlável. Numa definição nerd, eu apostaria que no terceiro filho a gente consegue um selo ISO, de tão organizado que está o negócio.

A sensação mais nova que tem me batido é de certa forma a mais chata de admitir: a chegada de André decretou minha maturidade definitiva. É como um ingresso sem volta no mundo dos adultos, já que agora sim eu sou, de maneira irreversível, um pai de família. Eu lembro que minha amiga Silvia questionava se quando a gente tiver segundo filho, as pessoas passariam a nos perguntar “a aí, quando é que morre?”. Segundo ela, esse processo começava com “quando é que casa?”, seguia com “e então, o herdeiro vem quando?” e terminava com “e outro?”. Ou seja, segundo esse rito, eu já fiz tudo que se espera de alguém na vida. Não sei quanto tempo isso vai durar até que me bata aquela vontade descrontolada de fazer alguma prezepada, mas no momento estou assim, muito plantado, senhor de si, cheio de responsabilidades para com a vida. Tomara que passe logo.

Tem uma parte muito engraçada do processo atual. É que Antônio, de repente, ficou um gênio, gigatesco e adulto para mim. Como passo muitas horas tirando cocô daquela micro fralda de André, dou banho e troco roupa pegando naquelas perninhas que parecem gravetos, quando Antônio aparece me abraçando as pernas, conversando, pesando aquilo tudo, dá a impressão que pra ele se passaram 15 anos. O póbi de André fica muito lesinho perto do irmão. Imagine um que só se comunica pra informar aos berros que está puto, com fome, cagado ou mijado, e outro que conta histórias que começam com “era uma vez” e de vez em quando faz chantagem do tipo “eu estou muito tiste, você não é mais meu amigo”. É como ter na sala um Atari ao lado de um play station 3. É uma comparação muito cruel. Com todos os avisos que recebemos, ainda assim corremos o risco de negligenciar um pouco o mais velho, já que de repente ele parece um ser grande, que “se garante”.

No meio disso tudo, eu só quero que André cresça com a gente, encantando e ensinando mais sobre a vida. Que esse novo pacto que, naturalmente, se reedita entre mim e a mãe dele perdure e se torne mais firme ainda. Que a gente esteja formando lá em casa um pequeno mas poderoso exercito de pessoas de bem, que lutará nas coisas mais simples por dias melhores, mais justos, mais fraternos. Assim como a chegada de André conseguiu reascender o que há de melhor dentro de mim, que a permanência dele por aqui faça com que eu possa repassar tudo isso, devolvendo pra ele, que é a maior inspiração do momento (Antônio ainda não sabe ler, ufa!).

Então é isso. Lembra daquele ponto, branco, lindo, numa mancha escura? Taí, André é o seguinte: dois pontos.

Contexto

15 de Agosto de 2007. Nasceu na CLIPSI em Campina Grande um paraibano arretado, ainda mais agora, que ganhou nome de um paraibano arretado demais.

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