Questões que me atormentam...

Tuesday, February 12, 2008

Estou ficando velho...

Uma das coisas mais chatas de ter irmão mais velho, principalmente quando são vários, é que nada que você vive, faz, curte, usa, etc., é bom. Nada presta. Tudo está piorado. No tempo deles era muito melhor...

Eles não passavam horas na frente da TV, não compravam carrinhos, não passavam férias dentro de casa, ou na calçada conversando com outros abestalhados como você. Eles sabiam fazer carrinhos de madeira, do zero, quebrando as caixas de tomate pra fazer a carroceria, rasgando a lata de óleo pra fazer a cabine, cortando sandálias havaianas (era coisa de pobre, naquele tempo) e batendo cada prego. Eles não queriam bicicleta. Faziam carrinho de rolimã e desciam aquela ladeira gigante, com muita adrenalina. De férias, eles iam para o sítio, construíram até uma casa numa árvore! Brincavam de guerra de estilingue (balieira, antigamente) e tudo mais. Por mais que você se achasse moleque, se comparasse com a infância que eles tiveram, sempre acabaria se sentindo um bobão, menino-criado-com-vó ou, pra resumir, um leso.

Quando você começa a gostar de futebol, eles têm as histórias dos times que jogaram, das vezes que pisaram no gramado do Amigão, do time maravilhoso do 13, com João Paulo de centroavante, ou do time de Zé Pinheiro, hexacampeão. Eles viram Pelé jogar, lembravam quando o Brasil foi campeão do mundo e conheciam a escalação do Internacional de Falcão e Batista decorada.

Se considerar uma aventura uma viagem que fez, é muita empolgação, porque eles já foram muito mais longe, muito mais vezes, e de carona. Se achar que vence dificuldades no dia-a-dia, é pura manha, porque eles passaram de tudo para chegar onde estão, enquanto você tem uma vida mansa e ainda se cansa e reclama.

Chega a hora de consumir um pouco de cultura, como música e cinema e tudo se repete. Que música é essa?! Eles não escutavam música, faziam. Tinham um grupo de samba, cujo repertório era de qualidade infinitamente melhor que o barulho que você gosta e escuta. Os filmes agora são só mentiras e explosões, não tem clássicos, grandes personagens, não durarão nem uma década, enquanto no tempo deles eram eternos, como E o Vento Levou, Ben Hur, 2001- Uma Odisséia no Espaço e A Lagoa Azul. Ouvir rock e gostar de filmes de ação é coisa para gente sem cultura.

Com essa convivência, a gente tem a impressão que a geração anterior era feita por pessoas muito mais inteligentes e interessantes que a nossa. Como se em dez ou quinze anos o mundo que restou para a turma mais jovem tivesse ficado burro e chato, porque tudo que os atuais habitantes fazem ou é chato ou coisa de gente burra.

Aí é que está o problema! Não sei se é problema, mas é aí que está. Eu olho para os meus sobrinhos e amigos deles, dez ou quinze anos mais jovens que eu e, com raras exceções, e acho um povinho burro, que leva uma vida chata da porra.

Primeiro, eles não consomem música, são consumidos por elas. As rádios FM e os programas de auditório na TV determinam com extrema facilidade tudo que eles vão gostar e cantarolar nos próximos meses. Nunca vi uma adolescente desse escolhendo uma música. Descobrindo um som que ninguém conhece e se interessando por ele. Tudo que eles conhecem e gostam é sucesso. Isso que dizer, pelos padrões atuais, que alguém pagou uma grana à Rádio ou à TV para aquilo tocar, se tornar conhecido e ser do gosto do adolescente.

Segundo, e mais grave, eles não lêem. Não lêem e ponto. Não é que não leiam romances muito longos, ou não leiam clássicos da literatura muito densos, ou não leiam revistas sobre qualquer área, ou jornalísticas de publicação nacional. Eles simplesmente não lêem nada! Só legenda de filme, e se for comédia romântica.

Eles nunca foram ao teatro. Não sabem nem quando tem alguma atração chegando, ou evento mais empolgante no único teatro da cidade.

Eles não discutem política, não se interessam por nada que está acontecendo ao seu redor, não são contra ou a favor nenhuma decisão ou opinião que determine os rumos do mundo, do país, da cidade, ou da sua rua. Não são capitalistas, comunistas, liberais, socialistas nem sociais-democratas. Isso soa palavrões para o vocabulário deles.

Nunca passou pelas cabeças deles mudar o mundo. A rigor eles não têm noção de como o mundo está, imagine querer fazê-lo diferente.

É incrível como a quantidade de informação a que eles têm acesso é centena de vezes maior das pessoas que tinham aquela idade quinze anos atrás e, paradoxalmente, essa enxurrada de informação parece fazer com que eles não se foquem em nada, e fiquem simplesmente abrindo a boca e engolindo, sem pensar, como meu filho de dois anos toma uma sopa. São TVs com cem canais, Rádios com dezenas de emissoras e Internet com milhões de sites. Parece que para se livrar da confusão desse oceano, o adolesce se agarra no site do Orkut, no canal da Globo e na FM de mais sucesso (empurrando os livros para longe, claro).

Diante de tudo isso, posso concluir que estou é ficando velho mesmo. Que não passo de um irmão mais velho, que está olhando para os mais jovens com aquela mesma indignação e desdém que meus irmãos me olhavam anos atrás.

Tomara!

Senão eu vou ter que concluir que meu mundinho de classe média está ficando um lugar muito chato mesmo, habitado por gente cada vez mais burra e menos interessante.

Contexto

Primeiro semesre de 2007, não lembro bem a data. Um dia que devo ter amanhecido "com os pés pra trás", perdi a paciência com superficialide de meninos e meninas de classe médias, colégios famosos da cidade e carinhas bonitas que me rondam e resolvi registrar.

1 Comments:

  • Otimo texto Guga! Adorei! Talvez uma coisa a ser feita seja afixar um texto como esse no mural das Lourdinas. O que acha ?

    By Blogger Daniel Fireman, at 6:17 PM  

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