Sorria, você esteve no TRE da Bahia
Março de 2005. Voltando a Paraíba para fazer doutorado, tinha um sentimento de gratidão pelos anos que passei na Bahia, por tudo que acumulei de bom no período que estive em Salvador. O TRE-Ba é um pedaço importante desse período, e muito curioso, porque as coisas aconteceram lá na mesma sequência de cada fase que vivi como "estrangeiro", a quase mil km da Paraíba. Na saída, fiz esse registro.
Gente, o período que estive no TRE-BA coincide mais que cronologicamente com os anos que morei na Bahia, porque dentro do Tribunal passei por todas as etapas que fizeram da minha estadia na “melhor cidade da América do Sul” mais um daqueles períodos felizes da minha vida, sempre tão abonada. O que aconteceu comigo nesse prédio da paralela é um resumo das experiências vividas nesses seis anos longe de mãe (como Painho gosta que eu fale).
Foi difícil chegar, difícil entender como as coisas funcionam e, principalmente, entender como as pessoas funcionam. Como todo início, houve centenas de arestas a se aparar entre o normal que vinha comigo e o normal que encontrei em vocês. Por ter sido mais árdua, essa primeira etapa (como em quase tudo na vida, aliás) foi das mais instrutivas. Passado o primeiro momento, iniciou-se as duas etapas seguintes, que passaram como voando e, na minha avaliação, completariam a tríade vim, vi e venci.
Aqui eu vi, aprendi muito sobre trabalho e pessoas, como há tempo não crescia tanto profissionalmente e provavelmente jamais tinha enriquecido como pessoa. Desenvolvi muitas novas habilidades e competências. Descobri os Tribunais que existem dentro de um TRE e levarei uma bagagem invejável comigo. Aqui, além de Paraíba, eu fui programador, chefe de setor, o menino do SVC, atacante do time da SI, grevista, sindicalista empolgado, animador de auditório em treinamentos chatíssimos de urna eletrônica, coordenador, e, melhor que tudo, acredito ter conseguido ser sempre Guga, na essência daquele que chegou há seis anos, sem se achar melhor ou pior, “não desejando o mal a quase ninguém”. É exatamente esse período que merece o registro que agora faço. É essa etapa que me traz uma certa obrigação de devolver de alguma forma tudo de bom que aqui me foi dado.
No TRE-BA recebi espaço para trabalhar tranqüilamente, para sugerir, inventar, apresentar idéias e opiniões, às vezes ignoradas, mas sempre pude trazê-las. No TRE-BA, mesmo no meio de sua era chamada “negra”, encontrei espaço para descordar, apoio para resistir, companhia para se posicionar e a chance de descordar, até duramente várias vezes, mas sempre mantendo a ternura, ao ponto de não conseguir eleger um desafeto nesse tempo todo. Trabalhando aqui eu fiz amigos, conquistei pessoas e incrementei meu mundo com novas fatias maravilhosas, desde a impavidez de Djooorge até as loucuras de Hadad e Luciana (cada uma a seu modo). Nesses processos recebi das pessoas grande parte da alegria que senti na Bahia. Senti alegria de conviver, senti a felicidade de ter gente para me ensinar, apoiar, ter paciência com perguntas e dificuldades primária para alguém que, soldado raso, vinha da infantaria. Adorei encontrar nos corredores formais de um Tribunal gente que não se encaixa, gente que não foi feita em séria, os chamados malucos, bem representados por Joel (esse réu confesso), Zé da Palha e Sidjinhi. Senti aconchego ao ser bem recebido em um meio de certa maneira já formado, em turmas de amigos já sedimentadas, em grupos de trabalhos já completos e entrosados. Dos que tiveram as relações profissionais extrapoladas em laços de amizade, levarei um vínculo praticamente inquebrável com a Bahia, talvez tão forte quanto a naturalidade soteropolitana do meu filho.
A exemplo da chegada, quando desembarcava vindo da Paraíba, só que agora em sentido contrário, levo da Bahia e do seu micro mundo TRE-BA a mais profunda gratidão, a enorme alegria e orgulho de ter sido e continuar sendo parte desse planetinha e, no fundo do coração, a certeza que a nossa relação não se acaba aqui. Seja para visitar com uma enorme freqüência ou para me instalar novamente, definitivamente voltarei.
É com a sensação de “venci” que parto. Pelas emoções que experimentei, pelas alegrias que encontrei e pelo aprendizado que acumulei, levo a sensação que prosperei nessa terra. E é com este sentimento positivo que deixo um beijo no coração de todos, desse Paraíba que parte, mais uma vez, buscando novos horizontes.
Guga (Paraíba, segundo Bruno)
0 Comments:
Post a Comment
<< Home